segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Estou fora do Brasil.

Quando desembarcamos no aeroporto internacional de Madrid, começou a minha série de mindfucks que seguiria por toda a Europa. Deus, pela primeira vez eu estava fora do Brasil. Estava pisando em terra que só li sobre em livros de história. Sobre como aquele espaço tinha sido crucial por surgimento e desenvolvimento de toda a sociedade ocidental, sociedade essa na qual eu estou inserido. Sobre revoltas, revoluções, escolas artísticas e de pensamento. Cavaleiros, vilões, heróis, dragões humanos e mitológicos. Uma quantidade de história e cultura simplesmente avassaladora, inexorável. Haveria de ser brilhante, né?

Sim... e não.

Claro, foi brilhante, foi ofuscador como nada antes na minha vida. Eu, que não tenho talento artístico nenhum, fiquei literalmente tonto por diversas vezes com quadros que vi, finalmente 'com meus próprios olhos'. Minha posição de leigo em fotografia, não bastou pra ficar sem fôlego em diversas paisagens. Ou minha ignorância em arquitetura, para maravilhar-me em diversas estruturas. Também uma proficiência incompleta em habilidades sociais, para curtir o choque cultural.

Entretanto, ao comparar não somente os quadros, as paisagens, as músicas, como também as pessoas, vejo do lado da minha cama minha bota suja com uma terra esbranquiçada e penso em como o costume e rotina são eficazes em nos retirar o brilho daquilo que está ao nosso redor. Na pena que se faz ao sermos brasileiros e pensarmos como o exterior é mais. Se você falar que é mais coisa pra ver, mais diferente, mais informação, sim. Se você falar que é intrinsecamente melhor, superior, não.

O 'não' para a pergunta retórica não significa, em verdade, um não para o brilho europeu.

Significa um sim para o brilho brasileiro. O brilho latino americano. O brilho americano por todo. O brilho mundial. O brilho do sistema solar. O brilho da galáxia. Átomos de Hélio, Carbono, Oxigênio, Ferro, Magnésio, Urânio, Lítio, Enxofre, Fósforo! Todos eles precisaram de reatores nucleares fortíssimos para existirem. Se pegarmos uma pessoa de 70 kg, só da água do corpo dela, teremos mais de 40 kg de oxigênio. Olhamos pro céu noturno (ou vespertino, ou matutino) e não há como negar a evidência em que ficam esses reatores. Chamamos eles de estrelas e, assim como a luz do sol, estudamos e nos maravilhamos pela luz das outras estrelas também. E a herança dessa luz compõe tudo ao nosso redor, e nós mesmos. O som da risada de uma criança ecoando pela casa, o sangue de uma criança atingida por uma bomba na palestina. Os hormônios disparando no corpo da juventude em suas primeiras aventuras e a própria energia necessária para as bombas de sódio e potássio que conduzirão a sinapse que informará ao cérebro a dor todas as vezes que quebremos a cara.

Quando o personagem Bowman, em 2001: Uma Odisseia no Espaço fala sua célebre descrição do TMA-2 depois de ser sugado pelo monolito e ter seus olhos abertos para a inexorabilidade da existência como um todo, parece-me a sensação que tive com essa viagem como um todo.

" It goes on forever - and - oh my God! - It's full of stars!"

Tudo está cheio de estrelas.

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