sábado, 6 de setembro de 2014

Hoje de manhã eu vi um gato preto

Tem um gato preto que de vez em quando passeia por dentro da minha casa. Antes fosse do meu jeito, a casa onde moro teria uma gata - muito parecida com a gata que meu irmão mais velho tem. Contudo, não sendo, tenho que me contentar em entreter (tentar) esse arisco, quando passa. Ele é todo preto e tem os olhos bem verdes. A Petty me indicou que era mó rolê errado dar leite, por que gatos podem ter alergia. Eu juro que não sabia. Aí comecei a colocar umas comidas mesmo. Se pá até comprarei comida de gato, só pra agradá-lo quando ele passa pro aqui. Pode ser que seja uma gata, nunca cheguei ou pude chegar perto o suficiente pra saber.

"Conseguiu afanar o gatinho?"
"Nem. Tem dias que ele não aparece, mais, não fico prestando atenção o dia inteiro. Não é um interesse de fazer com que ele volte sempre, mas de ser gentil quando o vejo."

No meio da viagem, ainda em julho, teve um momento que uma imagem de facebook me atingiu fortemente. Meio tosco até pensar nisso, mas, cara, não posso fazer nada. Mentira, posso. Posso escolher ser esnobe quando algo que seria visto como cafona me atinge. Mas prefiro a sinceridade. Uma coisa que me ajudou bastante nessa viagem foi fazer as pazes com meu irmão do meio e resgatar um lado mais peito-do-pé-no-peito-dos-outros. Era uma imagem que dizia que a dificuldade humana em amar gatos está diretamente relacionada a incapacidade de amar sem querer dominar.

Sinceridade por sinceridade, me atingiu como um trem. Me atingiu por que acho que, como a maioria das pessoas, você acaba absorvendo o que a cultura ao seu redor mais te passa. E pra mim, em relacionamentos, amorosos e de amizade, era bem Shaman King. Ou Inu Yasha. Pros amigos, era só você ser um cara sincero, aberto e preocupado. Pros amores, é só você seguir seu rumo sendo fodão, que aparece. Pode até ser que pros amigos tava mais ou menos no caminho, mas quando você se lembra de ser uma criança que aos 10 anos era frustrada por não ter uma namorada, acho que algo tava errado.

Muitos anos depois, muitos relacionamentos depois, muitas adequações ao que é real depois, fui me encontrar numa situação de gato. Numa situação em que eu tinha que aprender a ficar tranquilo. Aceitar, internalizar algo por cima do que havia internalizado. Algo tão simples como o conceito de que se a outra pessoa está lá, é por que ela quer. Se ela não estar, é por que ela ou não pode, ou não quer. E não há problema com nenhum dos dois. Machuca, arranha, aceitar isso. Entender é fácil. Mas aceitar...

O Pepe Mujica, atual presidente do Uruguay, é um cara que muitas vezes choca por ter ideias sensacionalmente sensatas. Mas divago. Em um momento, ele fala, apesar de permitir a maconha, que "Se você precisa de drogas pra ser livre, então você está frito. A liberdade tenho na cabeça, ou não a tenho." Não que sejam ideias conflitantes, mas explorar isso mais divagaria de onde quero chegar.

Existe um texto que supostamente é inspirado na fala de uma criança que cachorros morrem mais cedo por que eles já nascem sabendo amar, então eles tem pouco a aprender ~por aqui~

Será que gatos nascem com a consciência de que a felicidade, tal como a 'dade' do presidente, também está na sua cabeça?

O gato subiu no telhado do rancho depois de comer, brincou um tempo mais, deixou eu chegar mais perto pra oferece um pouco de comida. Mas ele não quis, ficou ali, pulou no chão e seguiu seu rumo.

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